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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

FILME | O ILUMINADO, de Stanley Kubrick



ATENÇÃO! Contém spoilers.

Aposto que Stanley Kubrick ainda provoca muitos suspiros por aí, mas não por sua beleza (porque né) e sim pela sua famosa e reconhecida genialidade atrás das câmeras. O diretor é responsável por diversos clássicos do cinema como Laranja Mecânica, De Olhos Bem Fechados, sendo este seu último filme, e, claro, O Iluminado.

Como grande maioria dos amantes do cinema, acabei assistindo o filme bem antes de ler o livro e de imediato acabou se tornando um dos meus queridinhos, no entanto, após realizar a leitura da obra de Stephen King, a película perdeu alguns pontos no meu ranking pessoal.

Explico.

O livro que serviu de base para o filme, e que recebe o mesmo nome, é uma obra complexa que descreve e desenvolve os personagens de uma maneira tão humana que absorve o leitor para dentro da história com a mesma força que o velho Overlock absorve Jack. É um incrível processo de fundição. 

Além desse fato, o livro também descreve de forma majestosa diversas manifestações espirituais e outros tantos eventos paranormais que são de arrepiar!

Vou evitar repetir tudo que já falei sobre o livro, pois já dediquei uma postagem inteira para isso, mas, basicamente, esses são os pontos mais salientes da obra literária.

De outra mão, o filme de Kubrick deixa de trabalhar as relações intimas dos personagens. Pouco sabemos se antes do Overlock Danny e Jack eram companheiros ou se Jack e Wendy realmente se amavam, fatos abordados profundamente no livro. O filme, a priori, dá a entender que Jack já possuía uma personalidade violenta, principalmente pela sua aparência psicótica apresentada desde a reunião com o gerente do hotel, momento em que o Overlock ainda nem tinha começado a colocar as manguinhas de fora. Assim, temos a sensação de que Jack estava enlouquecendo, ou melhor, estava tendo aflorada sua psicose pré existente, durante a estadia no hotel, e apenas nos minutos finais do filme é que descobrimos que na realidade as visões são manifestações “reais” do Hotel Overlock.

Considerei esse afastamento dos personagens uma “falha”, quando comparado com o livro, porque mal temos tempo de estabelecer qualquer tipo de sentimento pelos protagonistas, portanto, se Jack tivesse conseguido obter êxito na sua crise sanguinária, mal sentiríamos a morte de Wendy ou Danny. Sensação oposta a transmitida no livro.

Um segundo ponto que me deixou “levemente” irritada foi a falta de enfoque na relação de Danny e Tony, bem como na relação entre Danny e o Sr. Halloran (o cozinheiro), que no livro possui um papel essencial, tanto para auxiliar o leitor na descoberta do conceito de “iluminado”, como para salvar a vida de Wendy e Danny. No filme, Danny tem uma breve conversa com o Sr. Halloran, tão superficial que nem é possível observar o nascimento de uma vinculação emocional, tão pouco entender as motivações que, no final do filme, levam o cozinheiro a ultrapassar tantos obstáculos para salvar a vida de pessoas que mal conhecia.

Outro aspecto é a ausência das aparições fantasmagóricas tão constantes no livro. Na adaptação para o cinema, vemos apenas a “velha da banheira”, o cachorro e seu companheiro, Grady (o antigo zelador e pai das menininhas apavorantes) e algumas pessoas “normais” na festa. Tudo muito rápido e indolor. De outro lado, o livro traz outros tantos personagens sobrenaturais e situações que lhes envolvem, igualmente apavorantes. Tudo muito demorado e dolorido. 

Por fim, o último aspecto gritantemente diferente do livro é o desfecho. Na história original, Jack, que é o zelador do Overlock, é responsável por manter o controle da pressão da caldeira, já no filme, a responsabilidade dessa atividade fica a encargo de Wendy. No livro, Jack, ao ser totalmente possuído pelo hotel, esquece completamente da caldeira, fato que leva com que o hotel “exploda” e só então Wendy, Danny e o Sr. Halloran conseguem fugir do local. Aqui outra diferença, no filme, Sr. Halloran é morto assim que chega ao hotel.

Importante mencionar que, muito embora eu considere esses aspectos dignos de descontos na pontuação da minha listagem pessoal, o filme em nada perde na sua qualidade técnica, que considero ser o seu diferencial e o principal motivo de estar entre os principais clássicos cinematográficos.

Aqui vale ressaltar uma curiosidade, no livro, o quarto em que está a “velha da banheira” possui a numeração 217, diferentemente do filme, que possui a numeração 237. Isso se deve ao fato de que o hotel onde boa parte das filmagens foram realizadas realmente existe e a equipe da administração solicitou a troca na numeração com medo de que, após o lançamento do filme, os clientes se negassem a se hospedar no quarto “assombrado”.

Portanto, ainda que o clássico de Kubrick tenha perdido alguns pontinhos no meu ranking em razão da leitura da obra de King, ainda o considero um dos melhores, tecnicamente falando, e muito assustador, aliás, apavorante, mas em relação à adaptação da história, acredito que, em se tratando de uma obra de um grande diretor, poderia ter ficado “melhor”.

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