The Zero Dark Thirty é o título original de A Hora Mais Escura, o famoso filme do Bin Laden, injustiçado em inúmeras premiações, como vem sendo falado incansavelmente pela imprensa. A história é aquela que já estamos cansados de ouvir, é a caçada ao homem mais procurado e perigoso do mundo pelo governo americano e sua conquista ao completar a missão. Será?
O filme começa com uma forte cena de tortura, demonstrando da forma mais clara possível como eram tratas as fontes de informações do governo americano e o quanto estas fontes repudiadas e até mesmo enganadas, quando não manipuladas, eram facilmente descartadas quando não mais necessárias. Esta cena e outras tantas que surgem no decorrer do filme foram alvos de severas críticas, por serem honestas, como diz a própria diretora, e de maneira alguma incentivam a prática de seus atos, pelo contrário, servem como sutil denúncia e crítica aos atos americanos, um dos maiores paradoxos do filme.
Apesar da, como dito, sutil denúncia, o ambiente do filme sugere durante todo o seu percurso que o povo muçulmano deve ser tratado com desconfiança e que não existe nada mais importante no mundo do que a cabeça premiada do terrorista, sentimentos preconceituosos e, infelizmente, de caráter dominante na população americana, o que não é à toa. Após o trágico evento do 11 de setembro, o governo americano se fechou em copas e declarou indiretamente guerra a um povo inteiro representado por poucos e eternamente estigmatizado e amaldiçoado desde então.
Jessica Chastein, após sua ótima atuação em História Cruzadas, retorna neste filme com uma atuação inversamente proporcional à exigência de sua personagem embora o seu esforço seja evidente e sua audácia constante, fatores que provavelmente a ajudaram muito a conquistar alguns prêmios por aí, mas faltou alcançar atitude, característica fundamental da personagem. A atriz dá vida à Maya, agente da CIA que decide se dedicar a descobrir o paradeiro de Bin Laden, primeiramente por instinto e necessidade americana e depois por vingança, e acaba se tornando a responsável pela missão de reconhecimento que resulta na morte do terrorista.
Kathryn Bigelow, nossa destemida diretora, mais uma vez repete a parceria com o roteirista Mark Boal, responsável pelo roteiro de Guerra Ao Terror, e peca ao fazer um filme longo, com pouco enredo e enrolado. São mais de duas horas do mesmo blá blá blá que eventualmente é animado por algumas explosões, porém nada que seja suficiente para manter quem assiste acordado, e acaba perdendo o domínio da situação dentro de seus 157 longos minutos.
Apesar de seus defeitos, o ponto mais positivo do filme é, sem dúvidas, as suas poucas indiretas ao governo americano, tão rápidas que se não bem observadas passam despercebidas, mas que estão lá para incomodar e causar desconforto (aqui entra mais uma vez o paradoxo de que falei). Tais indiretas poderiam ter sido mais usadas pela diretora e seu roteirista, mas o espírito americano e a necessidade patriótica falam mais alto as vezes e até mesmo as críticas são feitas com medo, também, devido à prováveis e futuras represálias.
O final do filme é o momento de maior agitação, uma cena longa, extremamente detalhada (aqui não critico sua demora, afinal é o ponto alto do filme), cheia de violência e os relatos da ocasião são seguidos a risca, desde a infiltração na casa, a morte de vários dos habitantes do local, a descoberta de inúmeros arquivos cheios de 'spoilers' sobre o futuro do terrorismo, até a chegada ao objetivo daqueles 157 minutos que falei, a morte de Bin Laden, ou pelo menos achamos que é ele, afinal de contas nem o governo americano parece ter tanta certeza, e o filme resgata esta dúvida ao mostrar pequenos relances da face suja de sangue e desfigurada do terrorista, quando não através de fotos, como aquelas que vazaram para a imprensa na época, representado mais uma vez de forma indireta uma crítica à incerteza americana.
Enfim, A Hora Mais Escura tinha tudo e mais um pouco para ser um dos filmes mais audaciosos e auto críticos dos últimos tempos, mas peca ao ter medo de expressar tacitamente sua opinião, acaba se tornando mais uma repetição prolongada daquilo que zilhões de jornais, telejornais, rádios e sites informaram na época já de forma repetida, e uma mera ilustração do sentimento indiscreto dos covardes influenciados pela boa moral.
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