Este livro não virou filme, mas sua história, ainda que em versões variadas, já esteve diversas vezes nas telonas. Anatomia de Um Assassinato de Philip Shenon, busca dissecar os bastidores da Comissão Warren, comissão responsável pelas investigações do assassinato de John F. Kennedy.
A história dos Kennedys sempre foi alvo de especulações e, sobretudo, de teorias conspiratórias, inclusive muito antes do assassinato de JFK. Ao lado da história dessa família, ainda temos ao seu redor as histórias de Marilyn Monroe e Frank Sinatra e seu envolvimento com a “máfia”. Assim, podemos dizer, resumidamente, que os anos 50 e 60 foram mergulhados num mar de delírios conspiratórios.
No livro, como dito, temos acesso a uma infinidade de informações post mortem, onde tudo começa, por óbvio, no fato gerador (assassinato de JFK). A partir de então, somos inseridos em um cenário político, onde observamos as primeiras reações de um governo prestes a desmoronar emocionalmente e seu desempenho para retomar o controle e definir os integrantes da comissão de investigação, que ficaria responsável, inclusive, por reavaliar as anotações e avanços da CIA e do FBI.
Após a complicada constituição da comissão, passamos a parte mais interessante, a investigação propriamente dita.
Por se tratar de uma história complexa, não temos uma narrativa linear, ou melhor, a narrativa segue os caminhos sugeridos pelas provas apresentadas em ordem de descoberta. Assim, muitas vezes, retornamos a pontos que até então considerávamos superados. Achei esta característica formidável, pois transfere ao leitor a responsabilidade de refletir sobre as possíveis consequências das inúmeras provas variáveis.
Ainda, na história, temos uma quantidade incansável de depoimentos, pois nenhuma prova em potencial poderia ser desperdiçada. Então, lemos desde relatos plausíveis, como os de Marina Oswald, esposa de Lee Oswald (possível assassino do presidente), embora cheio mentiras e omissões, até relatos completamente insanos, como os de pessoas que nem ao menos presenciaram o evento e afirmam ter informações imprescindíveis e inquestionáveis.
O livro explora inúmeros detalhes, dentre eles o da teoria da “bala única”, onde uma única bala teria atingido JFK e o governador do Texas. Até hoje esta teoria é alvo de dúvidas e ponto de partida para novas teorias.
A leitura é bastante densa devido à quantidade de informações, tanto originárias das investigações quanto dos bastidores políticos e sociais da comissão. Levei bastante tempo para concluir e, devo admitir, embora esta versão da história seja muito bem fundamentada ao apresentar dados e fatos concretos, ainda restam muitas dúvidas, talvez oriundas da absorção indireta das teorias conspiratórias incansavelmente repetidas ao longo dos anos.
Portanto, Anatomia de Um Assassinato é uma leitura necessária para todos aqueles que buscam informações concretas sobre este período tão dramático da história norte americana, bem como para aqueles que não se contentam apenas com teorias e suposições. Philip Shenon garante uma leitura rica em detalhes e sobretudo em conhecimento.
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